o desespero fez eu mastigar os lábios,
e agora o sangue escorre junto à saliva,
tingindo o fundo do copo vazio,
onde nem a água se atreve a refletir.
o calor do mundo pesa nas mãos trêmulas,
e o vapor que sobe cheira a abandono,
desenha sombras de asas partidas,
de um anjo que já chorou por mim.
o amargo do café, misturado ao sangue,
cria um gosto de grito engolido,
como se a dor tivesse uma receita,
e eu fosse o único a prová-la.
mas na fumaça que sobe em espirais,
há um rosto que me encara com pena,
não sei se me salva ou me afunda,
mas sei que, por agora, fico aqui.