Eu nunca fui muito bom com pessoas. Se você não começasse uma conversa, provavelmente não teríamos uma.
Já ouviu falar daquela ideia de que, se você contar uma mentira grande o suficiente e continuar repetindo, as pessoas acabam acreditando?
“Ele é apenas tímido, vai crescer e superar isso.”
Essa era minha mentira.
Continuei esperando pelo dia em que poderia finalmente mostrar quem eu realmente sou, sem medo de ser julgado. Mas esse dia nunca chegou.
Lembro daquele aluno quieto da turma, que sempre sentava no fundo e nunca levantava a mão. Sim, esse era eu, sempre com medo de falar, lutando minhas batalhas dentro da minha cabeça e perdendo cada uma delas.
Alguns anos depois, muita coisa mudou. O que você está prestes a ver pode parecer engraçado até perceber o quão trágico realmente é.
A ansiedade social não só arruinava minha vida, ela impedia que eu a vivesse.
Era como estar hiperconsciente de tudo o tempo todo, de uma maneira exagerada e paralisante.
Minha vida parecia bastante normal pra quem olhava, então acho que ninguém percebia. Mas meu mundo era preto e branco.
Tudo que eu fazia tinha que ser perfeito, porque, se eu cometesse um erro, as pessoas se lembrariam disso, julgariam e ririam de mim pra sempre. Pelo menos era assim que eu enxergava as coisas.
Cresci em um ambiente familiar muito caótico, onde tudo tinha que parecer normal e harmônico quando não estava sendo violento e traumático
Todas aquelas coisas que você faz sem pensar me deixavam extremamente nervoso. Eu acabava suando, corando, com a voz trêmula, a mente em branco, um completo estado de congelamento mental.
Não tinha ideia de como iniciar uma conversa, por mais simples que fosse, então eu praticava por uma hora na frente do espelho antes de pedir um simples café. Mas eu não podia simplesmente me fechar. Eu era adulto agora e precisava me sustentar.
Era difícil conseguir e manter um emprego porque sempre envolvia interação humana. Geralmente, eu desistia no meio do caminho porque não conseguia nem entrar em uma sala cheia de pessoas, quanto mais falar com elas.
Minha vida social não era exatamente emocionante. Toda vez que eu concordava em sair, instantaneamente me arrependia, desejando estar de volta na minha cama confortável. E antes de sair de casa, eu praticava todas as conversas diferentes que poderia acontecer naquele momento.
Eu me perguntava se havia algo que pudesse ser feito a respeito disso, e a resposta estava trancada em uma palavra simples: terapia. Eu criava esperanças, fazia o melhor e então desmoronava. Dias passavam antes de eu finalmente conseguir juntar os pedaços e colocá-los de volta, desajeitadamente.
Mas deixei que o que não importava realmente deslizasse, porque aprendi depois de muita reflexão que não estamos no controle de nada nem mesmo da nossas ações e emoções, então o ideal é deixar acontecer e ir improvisando na medida do possível.