Ele tinha 21 anos e a certeza de que o mundo era feito de despedidas. Não que soubesse disso desde sempre—quando criança, acreditava que as pessoas ficavam, que o amor era algo sólido e que a dor era passageira, como uma febre. Mas então veio a vida, e com ela o lento desmoronamento das certezas. Um a um, os rostos se foram. Alguns partiram sem aviso, outros saíram lentamente, como se a ausência fosse um processo meticuloso. Ele aprendeu, então, que era melhor ser aquele que solta as mãos antes que as mãos soltem ele.
Foi assim que ele a conheceu. Uma mulher que falava de amor como quem fala de um lugar que nunca viu, mas imagina existir. Ele a observava, fascinado. Como podia alguém ter tanta esperança? Como podia alguém acreditar que o amor era mais do que uma troca silenciosa de feridas? Ele não acreditava, mas gostava de ouvi-la. Gostava da forma como ela sorria sem perceber, da forma como ela olhava pela janela como se esperasse que algo acontecesse.
Ele a amava, mas não do jeito que ela queria. Amava-a com uma distância segura, como quem segura um vidro frágil, já esperando que ele se quebre. Amava-a sem permitir que ela o amasse de volta. Porque ele sabia que, no fim, ela partiria—todos partiam. E ele não suportava mais ser deixado para trás.
Então ele fez o que sabia fazer de melhor: a afastou. Foi cruel quando poderia ter sido gentil. Disse palavras que sabia que a machucariam, transformou-se naquilo que ela não poderia amar. E quando ela, enfim, foi embora, ele sentiu um alívio que durou pouco, pois logo veio o vazio.
O mundo continuou girando, os dias se seguiram como sempre. Mas ele sabia que algo dentro dele havia mudado, que cada despedida arrancava um pedaço que não voltaria. Ele tinha 21 anos e estava cansado. Cansado de partir, cansado de fazer os outros partirem.
Do lado de fora, o vento soprava, indiferente.
Quando eu estou pra baixo eu escrevo.
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