O Vestido Branco e o Silêncio que Nos Separa

Era uma vez, em um site de desabafos, onde as palavras fluíam como rios de emoções e segredos eram compartilhados sem medo, dois estranhos se cruzaram. Ele, um escritor solitário que encontrava refúgio nas letras, e ela, uma presença enigmática que raramente revelava algo sobre si. O site era um lugar de palavras, mas ela não era de escrever. Nem de se expor. Ainda assim, algo a trouxe até ele.

Ele era um frequentador assíduo do site. Escrevia longos textos sobre suas angústias, sobre as noites em que o silêncio parecia sufocante e os dias em que o mundo parecia pesar demais em seus ombros. Ele amava livros, histórias que o transportavam para longe de sua realidade, e vinho, que acompanhava suas reflexões solitárias. Suas postagens eram profundas, cheias de emoção, e atraíam a atenção de quem passava por ali. Ele buscava conexões, alguém que pudesse entendê-lo além das palavras.

Ela, por outro lado, era um mistério. Não escrevia. Nunca. Seu perfil no site era quase vazio, sem postagens ou desabafos. Mas ela estava lá, observando, lendo. Era uma presença silenciosa, como um espectro que passeava entre as palavras dos outros. Ela não desabafava com textos, mas algo na forma como ele escrevia a atraiu. Um dia, ela decidiu quebrar seu silêncio. Comentou em uma de suas postagens, algo breve, quase enigmático: “Às vezes, a solidão é menos dolorosa do que a decepção.”

Ele, intrigado, respondeu. E assim começou uma troca de mensagens que rapidamente se tornou diária. Ele falava sobre seus livros, seus vinhos, suas noites insones. Ela, aos poucos, começou a compartilhar um pouco de si — não através de palavras, mas de pequenos fragmentos de sua vida. Uma vez, ela enviou uma foto. Não era de um prato que havia cozinhado, nem de um desenho que havia criado. Era uma foto dela, usando um vestido branco, deslumbrante, que havia usado quando foi ao cinema. O vestido era simples, mas havia algo nele que capturava a essência dela: elegante, misteriosa, distante. Ele ficou impressionado. Aquele era o único vislumbre que ele tinha dela, e aquela imagem ficou gravada em sua mente.

No entanto, como em qualquer relação, nem tudo foi perfeito. Um dia, ele fez um comentário que ela interpretou como uma crítica. Ela reagiu mal, defendendo-se com uma frieza que o surpreendeu. Ele, acostumado a ser mais sensível em suas palavras, não soube lidar com a reação dela e respondeu de forma igualmente dura. A discussão escalou, e palavras foram ditas — palavras que nenhum dos dois realmente queria dizer, mas que saíram assim mesmo, impulsionadas pelo orgulho.

O silêncio que se seguiu foi pesado. Ele ficou remoendo a briga, imaginando como poderia ter sido diferente se tivesse escolhido suas palavras com mais cuidado. Ela, por outro lado, revisava a foto que havia enviado, sentindo um nó no estômago ao lembrar da conexão que parecia tão promissora. Mas nenhum dos dois queria ceder. Ele, orgulhoso de sua escrita e de suas opiniões, não queria admitir que poderia ter sido mais sensível. Ela, com sua frieza protetora, não queria parecer vulnerável ao pedir desculpas.

E assim, o tempo foi passando. Ele continuava a escrever no site, mas agora suas postagens pareciam mais vazias, como se faltasse algo — ou alguém. Ela também seguia sua vida, mas aquela foto do vestido branco, que um dia havia enviado, parecia agora um símbolo de algo que poderia ter sido e não foi. Ambos sentiam falta um do outro, das conversas que duravam horas, da cumplicidade que parecia tão natural. Mas o ego falou mais alto, e o amor que poderia ter florescido ficou preso em um “e se” que nunca se concretizou.

No fim, eles seguiram suas vidas, cada um carregando um pedaço do outro, mas sem coragem para reconstruir o que haviam perdido. Ele continuou a escrever sobre amor e perda, talvez sem perceber que estava vivendo uma história que ele mesmo poderia ter mudado. Ela continuou a ser enigmática, talvez sem perceber que sua frieza era apenas uma forma de esconder o quanto aquela conexão havia significado. E assim, a história deles terminou sem um final feliz, vítima do orgulho e da incapacidade de perdoar.

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@Kpryet você Já pensou em fazer um livro?

Quem sabe um dia…

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@Kpryet tenho certeza que o seu livro vai ser campeão de vendas.
@Kpryet posso fazer um texto junto com você ?

Lindo texto.
Que pena pelo final triste….

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Oui

o orgulho as vezes acaba com tudo

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@Violeta sempre torcemos pelos finais felizes , mas é legal também se surpreender a onde o texto leva

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@kenny eu também esperava um final feliz para essa história mas as vezes as histórias terminam em final triste

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Verdade…

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É interessante, fora do padrão de como as histórias acabam. Mas é bem assim, bela história.

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