Acordo antes do sol nascer, mas não porque preciso. O dinheiro entra enquanto eu durmo. O mercado não descansa, os pedidos não param. O café esfriando ao lado do notebook, enquanto os números sobem e descem na tela. Tudo criptografado, tudo limpo. Minha empresa não tem sede, funcionários ou placas na porta. Mas movimenta mais dinheiro do que muito empresário engravatado.
O sistema ainda acha que controla tudo. Eles fazem leis, impõem regras, criam barreiras. Mas eu entendo o jogo melhor do que eles. Se há uma proibição, há um mercado. Se há um desejo, há alguém disposto a pagar. Eu não forço ninguém a nada, apenas facilito o acesso ao que já querem.
Os pedidos chegam como sempre. O “pó mágico dos milionários”, a “poeira da alegria”, os “quadradinhos do paraíso”. Produtos embalados com precisão cirúrgica, camuflados entre coisas comuns, despachados como se fossem apenas mais um pacote perdido no fluxo infinito de entregas. Enquanto os jornais falam sobre apreensões, dezenas de caixas já cruzaram fronteiras sem ninguém perceber.
A cada transação bem-sucedida, um novo desafio. Testo novas rotas, aprimoro a segurança. Nada é estático. O segredo do sucesso é estar sempre dois passos à frente. Policiais tentam me rastrear, mas encontram apenas um rastro falso. Servidores caem, novos surgem. Um jogo de xadrez onde sou sempre eu quem move as peças.
Mas nesse mundo, ninguém dorme tranquilo. O topo é um lugar frio, e a queda pode vir de qualquer lado. Um contato errado, um deslize, uma linha mal traçada. O que me mantém no jogo não é a ganância, mas a disciplina. A paciência de nunca me exibir, de nunca querer ser visto. O verdadeiro poder não está no dinheiro, mas no anonimato.
Por enquanto, sigo intocável. Cada dia uma nova jogada, cada pedido uma nova vitória.
E o jogo nunca para.