Um Amor Grande DemaiS

Ele a amava. Amava com a devoção dos que esperam, dos que silenciam, dos que transformam a própria existência em um altar para a ausência do outro. Mas ela não o amava. Não porque houvesse desprezo, tampouco indiferença – era algo mais terrível do que isso. Para ela, o amor era uma construção imensa, inatingível, uma casa sem portas, um corpo sem nome. O amor não cabia em um simples “eu te amo”, pois essas palavras eram frágeis demais, feitas de um material que se esfarelava ao menor toque da realidade.

Ele, por sua vez, não compreendia. Como poderia algo ser tão vasto e, ao mesmo tempo, tão impossível? Ele repetia os gestos, deixava rastros da própria presença em cada espaço que ela habitava, na esperança de que, um dia, ela os reconhecesse como seus. Mas ela nunca reconhecia. Para ela, ele era apenas um homem, e seu amor, apenas um nome entre tantos outros, algo pequeno, descartável.

E assim seguiu o tempo, impiedoso, arrastando os dias como se fossem páginas já escritas e esquecidas. Ele permaneceu ali, esperando que, talvez, um dia, o amor dela pudesse descer de sua grandeza inalcançável e tocar, ainda que por um instante, a existência ordinária dos homens.

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